O Relatório Global sobre Crises Alimentares (GRFC) 2024, publicado recentemente, indica que oito dos 10 países que enfrentam as piores crises alimentares estão no continente africano, no caso Burkina Faso, Líbia, Mali, Moçambique, Nigéria, República Centro-Africana, República Democrática do Congo e Sudão do Sul.
O documento, que vem lançar luz sobre os desafios crescentes da insegurança alimentar que afligem várias nações do globo, coloca igualmente na lista o Afeganistão e o Haiti.
Produzido em colaboração com a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) e o Programa Alimentar Mundial (PAM), o documento, que espelha dados do ano passado, indica que os países citados estão a enfrentar crises alimentares severas devido a uma combinação de factores, incluindo conflitos armados, crises económicas, eventos climáticos extremos e deslocamento forçado de populações.
O Relatório Global sobre Crises Alimentares 2024 serve como um alerta urgente para a comunidade global e indica, no essencial, que os Governos, organizações internacionais e doadores intensifiquem esforços conjuntos para abordar as causas subjacentes da insegurança alimentar e fornecer assistência eficaz às populações mais vulneráveis.
Apesar dos esforços internacionais, segundo o relatório, a insegurança alimentar aguda continua a ter consequências humanitárias devastadoras nos países mais afectados. Milhões de pessoas estão em risco de fome, desnutrição aguda e mortalidade, com crianças, mulheres grávidas e lactantes a serem particularmente as mais vulneráveis.
Documento de referência para uma análise abrangente da insegurança alimentar aguda a nível global, regional e nacional, o Relatório Global sobre Crises Alimentares é resultado de um esforço colaborativo entre 16 parceiros, entre os quais o Unicef, União Europeia, SADC, FAO e HCR, e visa informar a acção humanitária e de desenvolvimento, fornecendo evidências e análises independentes e baseadas em fontes consensuais.
O relatório indica que os impulsionadores das crises alimentares estão interligados e reforçam-se mutuamente e que a insegurança alimentar aguda raramente é motivada por um único choque ou perigo, mas pela interacção entre choques e pobreza subjacente, fraquezas estruturais e outros factores de vulnerabilidade. Ainda assim, segundo o documento, é possível identificar um factor principal para cada país ou território.
Numa avaliação mais extensa, sobre as causas, o relatório avança que em 56 países, 18 têm mais de 71,9 milhões de pessoas a sofrer de insegurança alimentar, devido a condições climatéricas, enquanto em 21 (num total de 75,2 milhões de pessoas), a situação é agravada pelos choques económicos. Os conflitos e a falta de segurança é responsável pela crise alimentar de 134,5 milhões de pessoas de 20 países.
Angola está fora da lista
Angola não figura entre os mais de 40 países ou territórios que necessitam de assistência externa e que enfrentam crise alimentar aguda, num reflexo das políticas de diversificação económica e investimento no sector agrícola. Entretanto, o país aparece num segundo grupo de rendimento baixo ou médio-alto/baixo, não selecionados para análise, mas que solicitaram assistência externa em resposta a um choque ou choques na segurança alimentar resultantes de conflitos, insegurança, extremos climáticos, afluxo de refugiados ou teve mais de um milhão ou 20 por cento da população deslocada à força.
Até ao ano passado, Angola tinha um registo de mais de 56 mil refugiados, grande parte fugida da instabilidade na República Democrática do Congo.
Aposta na diversificação
Nos últimos anos, o Governo angolano tem implementado medidas estratégicas para reduzir a dependência do petróleo e fomentar o crescimento de outros sectores, como a agricultura, o turismo e a indústria.
A diversificação económica tem sido um factor crucial para a estabilidade alimentar do país. A promoção de sectores não petrolíferos criou novas oportunidades de emprego e aumentou a produção interna de alimentos.
Além disso, o Governo tem investido em infra-estruturas rurais e programas de capacitação para agricultores, resultando num aumento significativo na produção agrícola. As políticas de estabilização económica e as reformas financeiras implementadas ajudaram a manter a inflação sob controlo e a fortalecer a moeda nacional. Isso tem aumentado o poder de compra das famílias angolanas, tornando os alimentos mais acessíveis.
Angola também estabeleceu parcerias estratégicas com organizações internacionais e países aliados para promover o desenvolvimento sustentável e a segurança alimentar. Esses esforços colaborativos têm sido fundamentais para a resiliência do país face a desafios económicos globais.
Com as políticas de diversificação económica e investimento no sector agrícola, Angola apresenta-se como um exemplo encorajador de como medidas bem implementadas podem fazer uma diferença significativa na segurança alimentar de uma nação.